Enquanto entrava na clínica médica para fazer meu exame de sangue, eu só conseguia pensar em como esconder o medo em frente à câmera. Eu não fazia ideia do que aquele exame iria revelar.
Fonte: BBC por Catrin Nye
Não tenho muita simpatia por agulhas. Mas, como parte de uma investigação sobre os chamados produtos químicos eternos para o programa de TV Panorama, da BBC, fui fazer o exame para descobrir qual a quantidade dessas substâncias no meu sangue.
Como mãe de duas crianças pequenas, também quis saber se essas substâncias poderiam afetar minha família.
Os produtos químicos eternos — substâncias per e polifluoroalquila (PFAS, na sigla em inglês) — são um grupo de cerca de 10 mil substâncias. Eles são usados há décadas, em produtos que variam desde roupas à prova d’água até utensílios de cozinha, circuitos eletrônicos e equipamentos médicos.
Trata-se de poluentes persistentes, ou seja, eles não se degradam com facilidade. Pelo contrário, eles se acumulam no ambiente.
Os produtos químicos eternos estão nas nossas casas, na água e nos nossos alimentos. E os cientistas relacionaram uma pequena parte deles a riscos sérios, como infertilidade e câncer.
Níveis de PFAS acima de 2 nanogramas (ng) por mililitro de sangue são considerados perigosos para a saúde, segundo Sabine Donnai, especialista em assistência médica preventiva. Ela nunca conheceu ninguém sem pelo menos alguns PFAS no sangue.
Meu resultado foi de 9,8 ng por mililitro. Donnai contou a notícia com muita gentileza, mas, ainda assim, foi um choque.
Os produtos químicos eternos no meu sangue “muito provavelmente” irão prejudicar minha saúde, segundo ela.
Também fiquei sabendo que, infelizmente, meu sangue teria se livrado de parte dessas substâncias durante a gravidez, transmitindo os PFAS para meus filhos.
Neste momento, a investigação da BBC deixou de ser simplesmente trabalho e passou a ser algo muito pessoal.
“Os níveis de PFAS devem ter sido ainda mais altos durante a gravidez”, contou Donnai. “Você certamente terá transmitido para os seus filhos.”
Fiquei preocupada e também furiosa. Como isso pode ter acontecido sem que eu tivesse nenhum conhecimento e muito pouco controle?
Eu quis saber mais sobre essas substâncias e os problemas de saúde relacionados.
Os PFAS “não se decompõem”, segundo Stephanie Metzger, da Sociedade Real de Química do Reino Unido. “Quando entram no nosso corpo, eles se estabelecem e se acumulam, pouco a pouco, até começarem a interferir nos nossos sistemas.”
“Alguns PFAS foram relacionados a problemas da tireoide, outros a câncer do rim e do fígado e se demonstrou que alguns deles prejudicam a fertilidade.”
No meu caso, é “improvável” que eu consiga reduzir meus níveis para zero, segundo Donnai. “Mas você pode reduzi-los nos próximos dois ou três anos com uma estratégia.”
Ela sugeriu que eu aumentasse minha ingestão de fibras, seja comendo mais aveia, cevada, feijão, nozes e sementes, ou tomando suplementos de fibra formadora de gel.
O aumento das fibras na alimentação é “até aqui, a evidência mais forte que pode ajudar”, afirma ela.
Se eu fizesse isso, a menstruação também ajudaria a reduzir meus níveis de PFAS ao longo do tempo, destaca Donnai.
Ela também me orientou a identificar as maiores fontes de exposição em casa, substituindo meus utensílios de cozinha antiaderentes por alternativas de cerâmica, aço inoxidável ou ferro fundido.
Donnai recomenda usar um filtro de água e adotar produtos de limpeza ecológicos, que declarem de forma transparente que são livres de PFAS. E também procurar produtos para os cabelos e de maquiagem livres de PFAS e evitar ingredientes com “fluoro” ou “PTFE” no nome.
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