Justiça

O DONO DA LANCHA É O CARECA DO INSS

Lancha milionária expõe vida de luxo do “Careca do INSS” e
pressiona investigação sobre fraudes na previdência
A compra de uma lancha de luxo avaliada em R$ 3,4 milhões pelo
empresário Antônio Carlos Camilo Antunes — popularmente
conhecido como “Careca do INSS” — tornou-se um dos símbolos
mais marcantes das investigações sobre fraudes e descontos
ilegais em aposentadorias em todo o país. O caso, revelado durante
os trabalhos da CPMI do INSS, expõe não apenas um estilo de vida
incompatível com a renda declarada, mas também um possível
rastro de transações financeiras suspeitas que agora são alvo da
Polícia Federal.
Luxo sobre as águas
O modelo adquirido, uma Azov Z480HT, fabricada em 2022, reúne
características dignas de embarcações utilizadas por milionários e
celebridades: cabine climatizada, revestimento acústico, cozinha
equipada, quatro televisores, dez caixas de som JBL, plataforma
submergível para mergulho e capacidade para 19 passageiros. A
embarcação permanece atracada na Marina Vip Service, no Lago
Sul, em Brasília, área nobre às margens do Lago Paranoá.
A lancha se soma a outros bens de alto valor atribuídos a Antunes,
como carros esportivos — incluindo Porsche, BMW e Range Rover
— além de mansões e investimentos no exterior. Para
investigadores, o conjunto desses bens reforça indícios de que a
expansão patrimonial do empresário não condiz com a renda de
empresas sob sua administração.
Negócio sob suspeita
Documentos obtidos pela CPMI mostram que a compra foi realizada
em etapas. Em abril de 2024, Antunes teria adquirido dois terços da
lancha por meio da empresa Prospect Consultoria Empresarial S.A.,
pagando R$ 2,2 milhões em parcelas. Em janeiro de 2025, fechou a
compra do terço restante, desembolsando mais R$ 1,2 milhão via
Pix — sendo a última parcela paga pouco antes da deflagração da

operação policial que revelou descontos indevidos em
aposentadorias.
Apesar de completamente quitada, a embarcação continua
oficialmente registrada em nome da empresa vendedora, a Madrid
Participações, o que levanta dúvidas sobre ocultação de patrimônio.
Um relatório do Coaf apontou operações “incompatíveis” e sem
clareza quanto à origem dos recursos movimentados.
O esquema que atingiu aposentados
Apelidado de “Careca do INSS”, Antunes se tornou figura central no
suposto esquema que teria gerado descontos ilegais em benefícios
previdenciários por meio de associações e empresas que ofereciam
serviços ou produtos não solicitados pelos aposentados. A prática
teria afetado milhares de segurados, muitos deles com renda
limitada, que viram seus extratos serem reduzidos por cobranças
misteriosas.
A CPMI estima que o esquema movimentou valores milionários e
pode envolver servidores públicos, representantes de entidades e
empresas de fachada.
Depoimentos, silêncio e contradições
Convocado a depor, Antunes negou qualquer envolvimento em
fraudes e afirmou ser vítima de perseguição política. Disse ainda
que sua vida de luxo seria fruto de “empreendimentos bem-
sucedidos”. Entretanto, evitou responder perguntas do relator da
comissão e se comprometeu a apresentar apenas documentos
contábeis das empresas.
O relator, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), classificou o
crescimento patrimonial de Antunes como “espetacular” e destacou
que há fortes indícios de recebimento de vantagens ilegais dentro
do esquema investigado.
Reflexos políticos e impacto social
O caso acirrou o debate sobre a vulnerabilidade dos sistemas de
controle do INSS, revelando falhas que permitiram que descontos
fossem realizados sem consentimento claro dos beneficiários. Para

aposentados — especialmente os de baixa renda — episódios
como esse reforçam a sensação de abandono institucional e a
dificuldade de contestar cobranças.
Parlamentares pressionam por uma reformulação nos mecanismos
de autorização de débitos, enquanto a Polícia Federal segue
aprofundando a investigação para identificar cúmplices, estruturas
financeiras e possíveis conexões políticas.
Símbolo de desigualdade
A lancha de R$ 3,4 milhões, mais do que um item de ostentação,
tornou-se um símbolo da disparidade social e moral que marca o
caso: enquanto milhares de idosos perdiam parte de seus
benefícios, um dos principais investigados ampliava seu patrimônio
com bens de luxo.
Se confirmadas as fraudes, o episódio deverá entrar para a história
como um dos maiores escândalos envolvendo o sistema
previdenciário brasileiro nos últimos anos.

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